Analítico ou Complexo?
O grande papel do treinador deverá passar por percepcionar, identificar e manobrar os constrangimentos mais importantes que influenciem a auto-organização do sistema de acção e como a interacção de constrangimentos concorre para a emergência de comportamento específico de jogo (Vilar, Castelo, & Araújo, 2010).
O processo de automatização (estabilização da performance) não explica a causalidade que leva a que dois sujeitos diferentes, em fase de consolidação do gesto, apresentem performances consideravelmente distintas em jogo. O facto é que, dominar a técnica, não significa que, em situação de jogo formal, com constrangimentos de diversa ordem, garanta, só por si, o sucesso. Embora, usualmente, o nível de habilidade seja inferido do desempenho na ausência de perturbação, não há dúvida de que a capacidade de adaptar-se às perturbações constitui-se um elemento decisivo na sua avaliação (Tani, 2005). A sobredosagem de métodos analíticos descontextualizados da essência táctica dos desportos colectivos não cumpre os pressupostos de representatividade do jogo, por outras palavras, a especificidade (Vilar, Castelo & Araújo, 2010). Para Garganta (2002), no método analítico, em que o gesto técnico é privilegiado, a abordagem do jogo é retardada até que as habilidades alcancem o rendimento desejado. Outra desvantagem do método é a de não ocorrerem os processos de tomada de decisão, pois o aluno possui conhecimento do movimento a ser realizado (Gama Filho, 2001; cit in Costa & Nascimento, 2004). Além disso, os exercícios repetitivos não estimulam a motivação dos participantes (Costa & Nascimento, 2004). Assim, o sucesso no desporto não deve ser atribuído apenas ao gesto técnico, devendo-se adoptar, simultaneamente, uma efectiva tomada de decisão que inclui, por exemplo, antecipação, reconhecimento de padrões e reconhecimento de sinais relevantes (McPherson, 1994; Poolton, et al., 2005; Matias & Greco, 2010). É importante desenvolver nos praticantes uma disponibilidade motora e mental que transcenda largamente a simples automatização de gestos e se centre na assimilação de regras de acção e princípios do espaço de jogo, bem como de formas de comunicação e contra comunicação entre os sujeitos (Garganta, 1995).
in Aprender o jogo jogando: uma justificação transdisciplinar – Filipe Clemente & Rui Mendes
Atendendo a toda esta informação e transpondo para o Treino de Guarda Redes, devemos:
– definir qual o escalão/idade onde é introduzido mais tempo de treino complexo;
– definir tempos de treino analítico e de treino integrado complexo;
– avaliar qual dos dois tipos é o mais adequado ao momento;
– perceber que Guarda Redes necessita mais de um ou de outro;
– estar preparados para todas as necessidades de treino….
Na minha opinião defendo que a excelência técnica se atinge, muito mais rapidamente, num plano de treino analítico, mas ser um Guarda Redes de excelência não é só técnica, é muita tomada de decisão, muito conhecimento táctico, é ser um conhecedor de excelência do jogo e só se consegue com muito treino complexo integrado. Então, para mim, deve-se passar de muito treino analítico nos escalões etários/qualitativos mais baixos para um maioritariamente treino complexo integrado em escalões etários/qualitativos mais altos.
Qual a Vossa opinião?
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Boas,
Para mim só faz sentido treinar com situações de jogo, a partir do momento que sei que eles percebem que têm de cair com os braços fora do corpo e de lado de forma a evitar leões, (para isso basta-me os primeiros 10 minutos da primeira sessão de treino), apenas uso situações de jogo. A única coisa que vou alterando ao longo da evolução dos GRs é a complexidade.
A técnica de per si não existe, a habilidade motora só a é quando é contextual (é a Aprendizagem Motora que o diz, não sou eu).
O sucesso no futebol depende da capacidade de interpretar a informação externa mais depressa que os outros, portanto só faz sentido treiná-la, e logo desde o início! O físico, a técnica, a tática (com "t" pequeno, o psicológico vem por arrasto, sempre em função de algo maior que é o jogo da equipa (com mais ou menos qualidade as ideias de jogo têm tudo aquilo que um GR precisa, obviamente que existem ideias mais completas para aquilo que se exige a um GR a top).
Obrigado Renato pela participação e opinião.
Respeito todas as opiniões e aprendo com todas elas e a sua é bastante positiva.
Mas pergunto-lhe:
Um Guarda Redes que não "saiba" fazer uma blocagem mas tem uma grande "inteligência" de jogo poderá chegar ao top?
Também sei que um que faça excelentes blocagens mas não tenha a tal inteligência também lá não chega… Logo, para mim, nem só jogo nem só técnica.
Mais uma vez – OBRIGADO PELA DISCUSSÃO!
Uma expressão chave vem de Ausubel: Aprendizagem significativa. Ainda que tenhamos que fazer uma abordagem analítica, por uma necessidade subjetiva ( do atleta ), é no treinamento global ( contextualizado ) em que se registra um maior potencial de armazenamento e Aprendizagem !
Concordo na íntegra com o seu comentário.
Obrigado.
Abraço